As veias e o vento (Elaine Guedes)

18/08/2013 22:53
 

As veias e o vento (Elaine Guedes)

 

Nada mais excitante que as árvores balançando,

se dobrando ante o vento

Nada mais movimento e vida

Aqui em minha janela, ali fora, bem perto

 Eu assistindo ao balançar tremendo ,

como se fosse num outro universo,

um que não me assiste, não me assiste!

Nada mais excitante que as gotas de chuva no vidro

Elas vieram de tão longe e ficaram grudadas aqui, só pra mim

Eu ,tão desimportante e quieta,

Diante de tanta demonstração de força

O vento está dizendo alguma coisa

Parece a voz de um deus faminto

Se alimentando do gemido das folhas.

Abro a janela e me vem um cheiro de carne frita do vizinho

Vindo junto do perfume da mata que não para

Ignorando-nos tal e qual

Pois que nenhum vizinho está acordado para isto,

Ninguém gosta de assistir o rudeza do tempo

A mim , graças a Deus,

estaria ainda mais a admirar o contorno das montanhas se mexendo

Se curvando ao vento

Não fosse o drástico cheiro de gordura que ainda entra pela janela

Quando tento respirar o ar gelado da frente fria

Atravessando a mata , me lambuzando o rosto.

Deus do céu, como comer dessa fritura?

Como é que em vez de respirar o ar sedento de nossa alma pura

Pode-se se empanturrar as veias com algo tão soturno?

Com que é que nos misturamos diariamente, afinal?