Meu aniversário

30/03/2013 06:57

 

Hoje é meu aniversário. Dia santo de uma semana santa. Gostei de ver a imagem do papa rezando deitado quando liguei o site de notícias, me arrependi por não ter ido à Igreja ontem, mas foi um dia em que naturalmente rezei mais, instintivo que foi, foi mesmo.

Hoje está sendo esse compartilhar de amigos, de pensamentos, acordei pensando na natureza humana. Pensando nos caninos do homem, e como é impossível mascarar isso com a apatia para impedir o movimento natural dos dentes.

Problema humano é que não morde apenas o essencial, a boca humana é uma extensão da imaginação e do desejo misterioso.

Por isso a arte de contemplar e de nos misturar ao tempo, ao Zeitgeist, e fazer uma parte nossa que exigirá sempre muito trabalho, para que essa longa mordida seja parte de um  longo desenvolvimento do espírito humano.

Hoje a manchete é "Coreia em estado de guerra", e olho o mundo, e posso "olhar" as guerras  por que já passamos, estudo história com minha filha e imagino um servo preso ao feudo, e imagino o espírito humano por milhares de anos, não sei quando aniversaria o mundo, em que dia, mas sei do tempo passando. 

Falávamos ontem  sobre o novo capitalismo, "o acolhedor", com a gestão integrada, considerando o ambiente e a "kultur" e a acolhendo com boca macia, assim como se deve agora acolher o planeta, nunca dantes considerado, porque, como se diz, tudo que é grátis não tem valor, e a natureza foi farta e gratuita, não teve o respeito humano. Mas isso é de fato que nem filho com mãe, a mãe é aquela que sofre a pirraça, o desaforo, a incompreensão, mas de quem se espera o colo e o conforto, a segurança. 

Não que devamos negar o espírito predador humano, já diz bem Ferreira Gullart, o capitalismo é nosso retrato. Nietzsche afirmava que não há sentido último no universo, que tudo está aqui por mero acidente sendo o homem outro mero acidente, um acaso da "vontade cega" que comanda o universo, e que foi o homem que projetou Deus (o maiúsculo é meu, claro) e não o contrário, quando projetou um ser imaginário que representava o desejo profundo de imortalidade, sabedoria, onipresença, onipotência... 

Então gosto de ver o Papa deitado, me inspira alguma submissão ao que não podemos controlar, ao acaso, mas também à necessidade da bondade tão pouco cultivada mas também parte nosso estado visceral, de um desejo de compartilhar com o mundo ou apenas o desejo de fazer parte dele, e de nos sentir acolhidos por ele, e de nos sentir amados por todo ele.

E por isto agradeço a todos os parabéns dos amigos nas redes sociais, nos emails, nos telefonemas, nos beijos, na mesa e na bebida. É mais um aniversário e estou viva nesse mundo que me inspira morder e também amar.