O Meu Dia Das Mães

12/05/2013 20:19

 

           

 

            Hoje  passei duas horas em meia sentada numa "Lojas Americanas", enquanto esperava as crianças se deliciarem sabe-se lá com que parte da imaginação, naquele lugar.

            Depois de ali estar, os barulhos foram dando forma e significado a tudo.

            Pensei  que  é este o retrato ideal de nosso tempo, ano 2013, século XXI. Músicas em diversos estilos reproduziam quase a mesma melodia, enquanto outros barulhos se acumulavam com as mesmas  freqüências  agudas e rasas e abafadas pela tecnologia.

            É como se os sorrisos e se choro fossem um sinal saido de uma tela de TV de plasma; todos os chocolates e brinquedinhos com barulhinhos , onde todas as coisas que somadas são quase que só  reproduções das revistas e das telas , cada uma com uma imagem que também não precisa ser ouvida, se misturando com a música e todos eram um pedaço do mesmo lugar.

            Minha filha tocou “Pour Elise” num tecladinho de trinta centímetros, e era tão bonito ela saber tocar alguma coisa onde não se espera mais que bater em qualquer tecla.  Beethoven sobressaia e a beleza do que ela sabia se perdia quando parecia, escondida que estava, não  mais que o som programado numa caixinha de música chinesa.

            Eu pensei em um tempo medieval em que melodias também se repetiam, pensei  em um tempo em que Bach escreveu novas notas e harmonias e a harmonia dos barulhos era intensa e se misturava com as pessoas , as freqüências eram profundas e não havia um significado em dinheiro para quase tudo, ou tudo. Os barulhos não deviam sufocar uma batida do coração, havia a importância do trovão e do escuro, e não havia um mundo dentro de retângulos planos .

            Eu olho uma loja dessas e imagino quanto se ganha para trabalhar com todos aqueles barulhos aos domingos, dia das mães, perto de todas aquelas coisas arrumadas em prateleiras.

          As coisas e os barulhos já não foram assim tão arrumados e eu acho que haverá um tempo diferente, em que estaremos numa  freqüência  mais rica de graves e agudos e choros e risos e talvez um nome e uma melodia sejam sinal de uma enorme singularidade e desarrumação.  

          Eu passei assim essas horas do meu dia das mães, sentada, olhando, dormindo com a cabeça debruçada sobre a mesa , enquanto as crianças brincavam de polícia e bandido e de esconder e dançavam funk e furavam as bolas, até que avisei que as câmeras as estavam filmando, porque é assim que a gente vive: nunca se sabe o quanto nos misturamos e temos que nos adequar às peças arrumadas de uma  barulhenta, multicolorida e moderna loja hoje em dia.

 

Elaine Guedes