QUEM PODE APRENDER LITERATURA?

09/03/2015 08:26

Esta semana assisti a uma palesta do professor Manuel Antônio de Casto. Enquanto ele falava eu pensava, boquiaberta, que ali estava um bom exemplo de até onde um ser humano pode chegar em seu intelecto. Mais uma vez me deixei estar perplexa pela diferença entre os seres humanos, em que a psicopatia é a outa ponta da corda, o outro lado da moeda, ou o que seja, os seres humanos tem uma diversidade e uma distância impossíveis de mensurar.

Nessa palestra ele falou sobre o aprender e o ensinar, e como o ser humano é uma ponte entre o saber e o não saber. Me remeteu ao livro foco, do Daniel Goleman, em que ele fala dos movimentos físicos no cérebro, de baixo pra cima e de cima pra baixo, indicando o intuitivo e o racional.

Quando penso nos livros adaptados que a escola da minha filha determina aos alunos, porque sua direção acredita que jovens de 13 ano não podem compreender o universo machadiano, por exemplo, me pergunto onde estão querendo chegar. Será que acreditam que a dimensão humana pode mesmo ser tão pretensamente compreendida?

Eu desejo para minha filha uma escola em que o incompreensível lhe seja apresentado, e que a dimensão dela não possa ser mensurada para que livros lhe sejam indicados de acordo com esta medida. Espero que a escola a prepare para caminhar bem entre o saber e o não saber, entre a certeza e a dúvida. Sendo que a dúvida é muito mais certa, e é com ela que o caminhar persiste. Todos os que esperam certezas caem fácil e rápido.

Sobre minha pergunta durante palestra, como administrar o diálogo com alunos diferentes entre si, e de mim, e como provocá-los para o que desejo despertar, que é a contribuição que me cabe, imagino que o melhor que posso fazer seja levar algo além das nossas medidas aos meus alunos. Eu espero não deduzir com tanta precisão por qual universo eles poderão navegar, pois só há uma palavra que encontraria nessa trajetória falida: limitação.

Espero que o Pibid seja para mim uma grande surpresa. Espero que os alunos sejam estrelas nesse espaço desconhecido. E espero mais ainda ter a gentileza de me dar essa oportunidade, caminhar por onde desconheço.

Enviarei este texto aos responsáveis pelas indicações de livros adaptados ( Os Miseráveis, por Walcyr Carrasco, pasmem! Victor Hugo foi esquartejado nessa). Dom Casmurro foi indicado este ano como quadrinhos. E faltou Capitães da Areia nesse momento importante da vida dos estudantes, em que a escola discute a vida de moradores de rua. Uma pena.

Fico com a humilde atitude do filósofo, acima de tudo, Manuel Antônio de Castro, que por tanto saber, acredita bem mais no ser humano. 

Elaine Guedes


Instigante, provocador e um opositor do pensamento preguiçoso, Manuel Antônio de Castro trouxe para o âmbito da poética a física, a biologia, a dança, a sociedade e o mundo da comunicação. Apaixonado pela arte do pensar, compartilhou ideias, promoveu debates, escreveu e organizou dezenas de livros e ainda hoje produz quase um ensaio por dia. Mais que acadêmicos, formou pensadores. Muitos escritores, professores e intelectuais hoje em atuação passaram pelo seu curso de poética na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde lecionou por mais de 40 anos.

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